terça-feira, 3 de agosto de 2010

Aqui se faz, aqui se paga

Eu cito Bill Maher, um comediante americano que fez um excelente (no meu ponto de vista) documentário sobre religiões, chamado "Religulous", ao dizer que eu me considero afortunado de não ter que acreditar em deus.

Explico. Acho que a crença em deus é uma forma de explicar o mundo, a origem da vida, assim como uma forma de lidar com a própria mortalidade. Acreditar em deus, em um espírito eterno, em um paraíso para o qual todos vamos quando morrermos, é uma forma de lidar com a "alternativa", que é a inexistência após a morte. E pensar em deixar de existir causa muita, muita angústia.

Acho também que acreditar em deus, na "recompensa" de deus por um bom comportamento, por uma vida moral, solidária, etc., dá um sentido pra vida, um motivo para ser "bonzinho". Não é, no entanto, a única maneira de se ter esse sentido.

Repito, não acredito em deus. Acho que deus pode até existir mas, se por acaso exista, tem muito mais com que se "preocupar" do que se eu me masturbo ou não. Mas penso que, apesar de minha natureza "herética", sou um cara decente. Trato bem às pessoas, sou educado, nunca matei ninguém, em poucas vezes me envolvi em brigas e, quando me envolvi, foi basicamente para me defender; não acredito que roubar seja correto, embora contextualize algumas situações onde posso considerar perdoável; acredito na solidariedade e na caridade. Mas acredito nisso por um princípio humanista e não por religiosidade. Não espero ser recompensado no pós-vida porque ajudei um amigo ou porque não fiz mal a uma pessoa que me provocou raiva. Como diz o outro, pra mim aqui se faz e aqui se paga.

Admiro as pessoas e entidades que seguem os valores cristãos e/ou humanos da solidariedade e da tolerância. Mas (correndo o risco de soar e ser extremamente prepotente) acho que a religião é uma forma "atrasada" de falar desses valores. Muito antes da bíblia, já se falava em valores humanos. Sei que é uma maneira que, teoricamente, funciona pra algumas pessoas. Mas não acho que funcione para a maioria. Não acho que muitos, quiçá a maioria, dos líderes religiosos sejam verdadeiramente pessoas cristãs, com valores cristãos (especialmente o Vaticano). Mas meu "alarme de divagação" disparou aqui, vou me conter.

Termino por dizer que eu espero que todos possamos ter os valores cristãos, valores humanos, da solidariedade, da tolerância e do respeito. Só gostaria que a instituição que prega isso fosse fiel a esses valores. Aí sim, talvez eu teria algum respeito por ela.

5 comentários:

  1. não só os líderes, como maior parte dos próprios seguidores destas instituições não fazem idéia do que é humanismo, solidariedade... seguem uma teoria religiosa e na prática são completamente incoerentes...
    inclusive eu acredito que um número muito grande de pessoas utiliza a imagem da religião para acobertar suas podridões.

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  2. "Não espero ser recompensado no pós-vida porque ajudei um amigo ou porque não fiz mal a uma pessoa que me provocou raiva."
    Isso eh pregado pela religiao... acreditar em Deus eh outra coisa. Nao se eh salvo (e se vai para um pos-vida como vc diz) pelo bem que se faz aqui, mas pela misericordia de Deus por nos, pela fe em Cristo. Quem cre nisso (e nao em religiao) ve a urgencia, a necessidade e o prazer de ser humanista...e estes sim podemos chamar de cristaos. soh nao se pode deixar a religiao ser a nuvem preta que cobre o ceu azul da historia... :o) xx

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  3. Concordo com o comentário da Marta, seremos salvos pela misericórdia de Deus e não porque ajudamos o próximo, fomos corretos, justos bondosos, demos esmolas. Isto acontece por causa da nossa fé em Cristo,não há necessidade de dogmas, doutrinas, automaticamente procuramos viver dentro do espírito cristão.

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  4. Mas eu não sou contra acreditar em deus. Eu, pessoalmente, não acredito nem em Jesus como uma figura divina nem no "pai" dele, mas acho que acreditar neles é bom pra muita gente, faz sentido, ajuda e, sendo verdade ou não, traz benefícios.

    O que me incomoda é toda a religião que foi construída ao redor dessa noção, com valores da idade da pedra que, eventualmente, foram norteados por uma ganância de poder e dinheiro.

    Deus, se existir, não tem culpa das religiões que foram construídas em nome dele.

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  5. ... e se eu posso ser humanista sem acreditar em deus, então acreditar em deus não é necessário para ser humanista. E crença é pessoal. Se você não tem como provar que deus existe, não pode afirmar com certeza que ele exista, só que você acredita nele, o que torna a questão absolutamente subjetiva.

    Eu não tenho como provar que deus não existe, mas não tenho interesse nenhum em fazê-lo. Vivo minha vida independente da existência de deus. Minha briga não é com ele, é com os homens que manipulam, roubam e matam em nome dele.

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