domingo, 8 de agosto de 2010

Abacaxis e Ananás

Nós, no Brasil, dizemos abacaxi. Eles, aqui, chamam de Ananás. É quase a mesma coisa, mas não chega a ser.

É assim pra muita coisa aqui. Teoricamente, no Brasil e em Portugal falamos a mesma língua. Isso, como eu descobri aqui, não é verdade. Ou talvez falemos a mesma língua, sim, mas não a mesma linguagem.

A língua me parece ser mais do que a ordenação padronizada de letras e sons, formando uma combinação de sons reconhecida por um grupo como simbolizando algo. Passa pela língua a cultura (não no sentido de "educação", de ser ou não ser culto) do grupo ao nível macro e micro. Cada nação tem algo em comum na sua identidade como pertencente àquele povo, e isso se aplica a escalas mais reduzidas: as regiões, os estados, as cidades, os bairros, etc. Não é por acaso que dentro do Brasil há diferenças na língua - não só nas palavras, mas em como vemos o mundo.

Essa diferença se fez bastante presente para mim aqui. Sim, consigo me comunicar bem agora que já "percebo" (como dizem aqui) melhor o sotaque e alguns termos. Há, ainda, termos que nós brasileiros conhecemos e usamos, mas em contextos e às vezes com significados ligeiramente ou bastante diferentes (o próprio verbo "perceber" aqui tem o significado que nós brasileiros damos a "entender").

Mas aí é que tá o meu ponto: "perceber" não é a mesma coisa que "entender". Nós fazemos a tradução e um termo se aproxima do outro, mas não são a mesma coisa. Essa é a diferença principal, creio.

Cada pessoa pensa de uma determinada maneira, se relaciona com o mundo de uma forma singular. Isso é a subjetividade, in a nutshell. Mas há algo compartilhado em como nos relacionamos com o mundo em grupos: seus amigos, seus colegas de trabalho, seus vizinhos, moradores do bairro, da sua cidade, do estado, da região e do país. Esse "agrupamento" pode ser heterogêneo, mas há algum ponto de ligação que é forte, que define a identificação com um determinado grupo (e é, em geral, muito mais do que "moro ali").

Por mais que eu fale português, e aprenda as diferenças locais da língua, eu jamais poderia ser um terapeuta, muito menos um BOM terapeuta, em terras portuguesas sem conseguir achar um ponto de identificação com a cultura, com o país, com o modo de pensar daqui.

E é, em parte, por isso que eu quero tanto voltar para o meu lar. Estar aqui deu ao termo lar um outro significado.

85...

Hoje, sem música. Ao som do ventilador, item obrigatório neste verão, e do eventual pássaro e pombo (pombo para mim se tornou uma sub-espécie de demônio) que passou pela janela.

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