segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Percepção

Percebi que o título deste blog estava muito auto-centrado. Não quero um diálogo só comigo mesmo. Quero interação, quero debate, quero que as pessoas que passem por aqui contribuam com as suas idéias.

Título mudado, bola pra frente.

Acho que estou numa espécie de limbo. Não é um destino, não estou fadado a uma eternidade de perambulação por um deserto nem nada. Mas, como diria meu pai, é dura a vida gauche.

Me sinto gauche em muita coisa. Acho que não sou "intelectual" o "suficiente" para alguns amigos, e ao mesmo tempo me acho "intelectual demais" (e isso não é um auto-elogio, mas uma crítica) para ser parte de outro grupo. Apesar de que me sinto aceito por tais grupos, em especial o último (que é um grupo somente para efeitos didáticos, são vários amigos e muitos não se conhecem), não me sinto parte completamente. Se é que é possível se sentir inteiramente parte de um grupo.

Também me sinto assim num outro assunto. Sou ateu. Acho que o pensamento científico faz mais sentido e explica de maneira mais adequada e fiel (com o perdão do irônico uso da expressão) os fenômenos que presenciamos e que já ocorreram. Pessoalmente, não acredito em deus (e escrevo intencionalmente com letras minúsculas, não por desrespeito mas por acreditar no poder das palavras e de como nos expressamos), mas não afirmo que deus não existe. Simplesmente não sei e não tenho motivos para acreditar que deus exista. Pode ser que sim ou que não. Mas estou divagando, vou voltar ao tópico.

Não acredito em deus. Por consequência (e aplico aqui a lógica), não sou religioso. Acho que, apesar de ser capaz de fazer bem a um indivíduo, num determinado momento, a religião tende a fazer mal a um povo. Temos aí, na História, inúmeras guerras, massacres e perseguições feitas em nome de uma fé, das quais cito especialmente as Cruzadas e a Inquisição (não me sinto no direito de falar do Islamismo ou de eventos em outras religiões que não as cristãs, por pouco contato que tenho com elas). Hoje, temos as igrejas evangélicas que se aproveitam da fragilidade emocional, social e econômica de milhões de pessoas para enriquecer a um grupo de elite. Claro, algumas pessoas recebem ajuda importante dessas igrejas, mas acredito que muito mais gente seja prejudicada por isso.

Por outro lado, não consigo aderir ao pensamento científico positivista. Não consigo ser um empirista, acho que a realidade é muito mais complicada do que "certo" e "errado". Acho que há muito que desconhecemos e, embora não chame isso de deus, acho que a ciência tradicional é incapaz de explicar. Grande parte dos meus amigos/colegas ateus, por sua vez, aderem a essa linha de pensamento mais tradicional da ciência, e têm a ciência contemporânea (ou pós-moderna, diria meu pai) como beirando o esotérico.

É duro ser gauche. Mas me sinto muito lisonjeado, honrado e fico muito feliz de ser aceito por meus amigos, com tudo isso que sou. Até porque, nessa vida gauche, quem não me aceita totalmente sou eu mesmo.

4 comentários:

  1. Olá Diogo
    Na minha opinião você é muito culto, escreve tão difícil e ao mesmo tempo consegue expressar suas ideias de uma maneira clara, que mesmo algumas palavras ou expressões que desconheço o significado, consigo entender bem o que você quer dizer.
    Gostei muito deste post de hoje, só não compartilho com você seu ateísmo. Acredito piamente em Deus e na sua grande misericórdia com todos. Já tive inúmeras provas da existência de Deus. Não vou entrar no mérito das doutrinas, das religiões, porque é um assunto muito commplexo e tento respeitar quem pensa diferente de mim.
    Na minha modesta opinião, acho que a pessoa que pensa assim, perde muito. Olha que falo de cadeira, tenho uma filha que pensa assim como você, apesar de ter sido doutrinada, evangelizada na religião católica.
    Bom, era isto que eu queria comentar.
    Parabéns pelo blog.
    Um beijo!

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  2. A minha percepcao d'eu fazer parte de um grupo, e/ou me sentir parte dele mudou completamente depois que conheci Deus, e entender o significado da vida :o)... acho que vc devia tentar.
    Acreditar no que eh 'dificil de acreditar' as vezes te surpreende... nem nos cientistas sabemos muito de certo como mostrar aos outros que Deus existe, pois isso requer fe (mesmo que pouca!)... aceite o risco positivo que isso pode te trazer, ehhehehe. O 'pior' que pode te acontecer eh vc ver que existe e decidir nao aceitar! bjos

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  3. Pra mim há uma questão muito clara: fé não me faz sentido. Não me faz sentido algum ter que acreditar na "misericórdia de deus" porque eu não preciso de misericórdia nenhuma.

    Acreditar no que é difícil de acreditar não é um mérito em si. Pode fazer sentido pra você e pra outras pessoas, ótimo. Eu não preciso :)

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  4. Tudo bem, meu caro, não me considero "atrasada" por acreditar em Deus, em seu filho Jesus Cristo, e em sua mãe Maria Santíssima.
    É uma questão de fé,e fé não se comprova objetivamente, ou você tem ou não.
    'Felizes os que creem sem terem visto'
    Todas as religiões são falhas, cheias de imperfeições, incoerências, abusos, justamente porque são conduzidas por seres humanos.
    Lamento, você não precisar e não querer acreditar na misericórdia divina.
    Eu preciso dela, e rogo a Deus todo dia que ele me conceda esta graça.

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