sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Muito Além do Cidadão Kane

Não está com a melhor qualidade de imagem possível, mas ao menos está no ar:

Parte 1
http://www.youtube.com/watch?v=JA9bPyd1RKQ

Parte 2
http://www.youtube.com/watch?v=m0m1rmi-Ooc&feature=related

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Eleições

O sistema eleitoral americano é confuso e antiquado. O estatuto de voto como direito somente, e não dever do cidadão, possibilita a manipualação e a marginalização de alguns grupos determinados, especificamente pobres e jovens. Neste sentido, o Brasil está na frente. Temos um sistema avançado, eletrônico, com firme controle contra fraudes; votar no Brasil é um dever, todos temos que votar - daí, o fato de a eleição ser em um domingo (nos EUA as eleições são num dia de semana, o que desestimula ainda mais as pessoas - que em geral recebem por hora - a saírem do trabalho para votar).

Mas eles têm uma coisa que nós não temos: diversidade de posição política da mídia. No Brasil, a mídia toda pertence à direita. Criticamos a Globo, que é a mais forte, mas a verdade é que todos os canais de TV têm uma agenda de direita - com exceção da TV Cultura, que não é bem uma TV de esquerda (e nem também uma TV muito forte). Isso se passa pelo processo de distribuição das concessões de mídia (procurem pelo documentário da BBC chamado "Muito Além do Cidadão Kane").

Na TV a cabo nos EUA, há dois principais canais de notícia: a Fox News, que é radicalmente de direita (e altamente anti-ética) e a MSNBC, que é de orientação esquerdista, progressista e "liberal". Tudo bem que a esquerda americana é mais direita que a nossa direita. Mas há um debate causado por essa polarização. Sinto falta deste debate acontecendo no Brasil.

A mídia de esquerda no Brasil se resume a "guetos". Temos algumas revistas, blogs, que são muito bons e interessantes, mas que não estão ao alcance do grande público. Sim, qualquer um pode ir à banca comprar uma Carta Capital, Piauí ou outras revistas do estilo, mas todos nós sabemos que não compram. Compram Veja, Época, porque essas são as mais "famosas". E são porque pertencem aos mesmos donos das TVs.

Falta uma TV de esquerda no Brasil. Falta uma TV aberta de esquerda. Acho que a polarização da mídia, a heterogeneidade, favoreceria a discussão política e, a médio-longo prazo, melhoraria o nível dos nossos candidatos.

domingo, 8 de agosto de 2010

Abacaxis e Ananás

Nós, no Brasil, dizemos abacaxi. Eles, aqui, chamam de Ananás. É quase a mesma coisa, mas não chega a ser.

É assim pra muita coisa aqui. Teoricamente, no Brasil e em Portugal falamos a mesma língua. Isso, como eu descobri aqui, não é verdade. Ou talvez falemos a mesma língua, sim, mas não a mesma linguagem.

A língua me parece ser mais do que a ordenação padronizada de letras e sons, formando uma combinação de sons reconhecida por um grupo como simbolizando algo. Passa pela língua a cultura (não no sentido de "educação", de ser ou não ser culto) do grupo ao nível macro e micro. Cada nação tem algo em comum na sua identidade como pertencente àquele povo, e isso se aplica a escalas mais reduzidas: as regiões, os estados, as cidades, os bairros, etc. Não é por acaso que dentro do Brasil há diferenças na língua - não só nas palavras, mas em como vemos o mundo.

Essa diferença se fez bastante presente para mim aqui. Sim, consigo me comunicar bem agora que já "percebo" (como dizem aqui) melhor o sotaque e alguns termos. Há, ainda, termos que nós brasileiros conhecemos e usamos, mas em contextos e às vezes com significados ligeiramente ou bastante diferentes (o próprio verbo "perceber" aqui tem o significado que nós brasileiros damos a "entender").

Mas aí é que tá o meu ponto: "perceber" não é a mesma coisa que "entender". Nós fazemos a tradução e um termo se aproxima do outro, mas não são a mesma coisa. Essa é a diferença principal, creio.

Cada pessoa pensa de uma determinada maneira, se relaciona com o mundo de uma forma singular. Isso é a subjetividade, in a nutshell. Mas há algo compartilhado em como nos relacionamos com o mundo em grupos: seus amigos, seus colegas de trabalho, seus vizinhos, moradores do bairro, da sua cidade, do estado, da região e do país. Esse "agrupamento" pode ser heterogêneo, mas há algum ponto de ligação que é forte, que define a identificação com um determinado grupo (e é, em geral, muito mais do que "moro ali").

Por mais que eu fale português, e aprenda as diferenças locais da língua, eu jamais poderia ser um terapeuta, muito menos um BOM terapeuta, em terras portuguesas sem conseguir achar um ponto de identificação com a cultura, com o país, com o modo de pensar daqui.

E é, em parte, por isso que eu quero tanto voltar para o meu lar. Estar aqui deu ao termo lar um outro significado.

85...

Hoje, sem música. Ao som do ventilador, item obrigatório neste verão, e do eventual pássaro e pombo (pombo para mim se tornou uma sub-espécie de demônio) que passou pela janela.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Segurança

No Brasil, não temos segurança. Ou melhor, temos muito pouco segurança. Sim, quando se pensa nisso, imediatamente nos lembramos da bolsa sempre à frente e debaixo do braço ao andar pelas ruas; dos carros com vidros fechados em pleno verão; das casas com muros altos e cercas eletrificadas.

Mas não falo só disso. Não temos a sensação de segurança na maioria dos aspectos da vida cotidiana. Não temos confiança no nosso sistema jurídico. Não temos confiança nos nossos políticos. Não temos confiança na nossa polícia. Não confiamos nem no padeiro. Por causa da cultura da "malandragem", estamos sempre atentos, sempre desconfiados. Malandro é o gato que já nasce de bigode e vive no telhado pra não pagar aluguel.

Perdemos nossa inocência. Somos, sim, um povo muito aberto, simpático, caloroso. Somos também um povo muito desconfiado. Porque nós mesmos somos """""espertos""""" (sendo, na verdade, idiotas), temos sempre o receio de que vamos ser passados para trás. Não queremos ser bobos. Então, ferramos com alguém para não sobrar com a batata quente.

O que não entendemos é que é um ciclo vicioso. Não confiamos nem em nós mesmos, quanto menos nos outros, então roubamos do outro. Sim, o roubo faz parte do dia a dia do brasileiro. Não se engane, não é porque você não é trombadinha ou assaltante que você passa batido. Eu apostaria muito dinheiro no fato de que você já roubou algo algum dia. Eu sei que eu já.

Roubamos o troco a mais que o caixa da padaria nos dá por engano. Roubamos a moeda de 50 centavos que vimos cair do bolso de alguém no ônibus. Roubamos quando exploramos a fragilidade de alguém em uma compra.

E, porque somos assim (e achamos que não há mudança possível), desconfiamos de todo mundo. Achamos que, se não houver uma catraca no metrô, todo mundo vai entrar sem pagar. Achamos isso porque é o que nós faríamos. Mas há quem não ache.

E enquanto não mudarmos a nossa forma de pensar, continuaremos ladrões num país de ladrões, achando que não temos solução.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Aqui se faz, aqui se paga

Eu cito Bill Maher, um comediante americano que fez um excelente (no meu ponto de vista) documentário sobre religiões, chamado "Religulous", ao dizer que eu me considero afortunado de não ter que acreditar em deus.

Explico. Acho que a crença em deus é uma forma de explicar o mundo, a origem da vida, assim como uma forma de lidar com a própria mortalidade. Acreditar em deus, em um espírito eterno, em um paraíso para o qual todos vamos quando morrermos, é uma forma de lidar com a "alternativa", que é a inexistência após a morte. E pensar em deixar de existir causa muita, muita angústia.

Acho também que acreditar em deus, na "recompensa" de deus por um bom comportamento, por uma vida moral, solidária, etc., dá um sentido pra vida, um motivo para ser "bonzinho". Não é, no entanto, a única maneira de se ter esse sentido.

Repito, não acredito em deus. Acho que deus pode até existir mas, se por acaso exista, tem muito mais com que se "preocupar" do que se eu me masturbo ou não. Mas penso que, apesar de minha natureza "herética", sou um cara decente. Trato bem às pessoas, sou educado, nunca matei ninguém, em poucas vezes me envolvi em brigas e, quando me envolvi, foi basicamente para me defender; não acredito que roubar seja correto, embora contextualize algumas situações onde posso considerar perdoável; acredito na solidariedade e na caridade. Mas acredito nisso por um princípio humanista e não por religiosidade. Não espero ser recompensado no pós-vida porque ajudei um amigo ou porque não fiz mal a uma pessoa que me provocou raiva. Como diz o outro, pra mim aqui se faz e aqui se paga.

Admiro as pessoas e entidades que seguem os valores cristãos e/ou humanos da solidariedade e da tolerância. Mas (correndo o risco de soar e ser extremamente prepotente) acho que a religião é uma forma "atrasada" de falar desses valores. Muito antes da bíblia, já se falava em valores humanos. Sei que é uma maneira que, teoricamente, funciona pra algumas pessoas. Mas não acho que funcione para a maioria. Não acho que muitos, quiçá a maioria, dos líderes religiosos sejam verdadeiramente pessoas cristãs, com valores cristãos (especialmente o Vaticano). Mas meu "alarme de divagação" disparou aqui, vou me conter.

Termino por dizer que eu espero que todos possamos ter os valores cristãos, valores humanos, da solidariedade, da tolerância e do respeito. Só gostaria que a instituição que prega isso fosse fiel a esses valores. Aí sim, talvez eu teria algum respeito por ela.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Percepção

Percebi que o título deste blog estava muito auto-centrado. Não quero um diálogo só comigo mesmo. Quero interação, quero debate, quero que as pessoas que passem por aqui contribuam com as suas idéias.

Título mudado, bola pra frente.

Acho que estou numa espécie de limbo. Não é um destino, não estou fadado a uma eternidade de perambulação por um deserto nem nada. Mas, como diria meu pai, é dura a vida gauche.

Me sinto gauche em muita coisa. Acho que não sou "intelectual" o "suficiente" para alguns amigos, e ao mesmo tempo me acho "intelectual demais" (e isso não é um auto-elogio, mas uma crítica) para ser parte de outro grupo. Apesar de que me sinto aceito por tais grupos, em especial o último (que é um grupo somente para efeitos didáticos, são vários amigos e muitos não se conhecem), não me sinto parte completamente. Se é que é possível se sentir inteiramente parte de um grupo.

Também me sinto assim num outro assunto. Sou ateu. Acho que o pensamento científico faz mais sentido e explica de maneira mais adequada e fiel (com o perdão do irônico uso da expressão) os fenômenos que presenciamos e que já ocorreram. Pessoalmente, não acredito em deus (e escrevo intencionalmente com letras minúsculas, não por desrespeito mas por acreditar no poder das palavras e de como nos expressamos), mas não afirmo que deus não existe. Simplesmente não sei e não tenho motivos para acreditar que deus exista. Pode ser que sim ou que não. Mas estou divagando, vou voltar ao tópico.

Não acredito em deus. Por consequência (e aplico aqui a lógica), não sou religioso. Acho que, apesar de ser capaz de fazer bem a um indivíduo, num determinado momento, a religião tende a fazer mal a um povo. Temos aí, na História, inúmeras guerras, massacres e perseguições feitas em nome de uma fé, das quais cito especialmente as Cruzadas e a Inquisição (não me sinto no direito de falar do Islamismo ou de eventos em outras religiões que não as cristãs, por pouco contato que tenho com elas). Hoje, temos as igrejas evangélicas que se aproveitam da fragilidade emocional, social e econômica de milhões de pessoas para enriquecer a um grupo de elite. Claro, algumas pessoas recebem ajuda importante dessas igrejas, mas acredito que muito mais gente seja prejudicada por isso.

Por outro lado, não consigo aderir ao pensamento científico positivista. Não consigo ser um empirista, acho que a realidade é muito mais complicada do que "certo" e "errado". Acho que há muito que desconhecemos e, embora não chame isso de deus, acho que a ciência tradicional é incapaz de explicar. Grande parte dos meus amigos/colegas ateus, por sua vez, aderem a essa linha de pensamento mais tradicional da ciência, e têm a ciência contemporânea (ou pós-moderna, diria meu pai) como beirando o esotérico.

É duro ser gauche. Mas me sinto muito lisonjeado, honrado e fico muito feliz de ser aceito por meus amigos, com tudo isso que sou. Até porque, nessa vida gauche, quem não me aceita totalmente sou eu mesmo.